
O cirurgião fetal Fábio Batistuta: “a Mielomeningocele pode causar danos irreparáveis nos nervos da coluna da criança”
Uma doença que vem chamando a atenção dos profissionais da saúde e da sociedade é a Mielomeningocele, caracterizada pela malformação congênita dos ossos da coluna e medula espinhal da criança. Esse fato tem em vista o sucesso dos procedimentos cirúrgicos recentes e a maior divulgação do seu tratamento e excelentes resultados. Embora não haja estudos sobre a sua incidência, dados oficiais estimam que nasça no Brasil uma em cada 1.000 crianças com essa patologia.
De acordo com o cirurgião fetal e coordenador da equipe multidisciplinar especializada nessa doença do Hospital Vila da Serra, Dr. Fábio Batistuta de Mesquita, “a Milelomeningocele é uma doença que acomete o bebê em formação. Ela pode ser devastadora se não tratada a tempo e adequadamente, pois pode causar danos irreparáveis nos nervos da coluna da criança, impossibilitando-a ou dificultando-a desenvolver funções corriqueiras como controlar a urina e os esfíncteres, caminhar, correr ou manter-se de pé sem ajuda de órteses e próteses. Além disso, a lesão observada na coluna, acarreta, na maior parte das crianças não tratadas, o acúmulo de líquido dentro do cérebro (Líquor) que implica no aumento da pressão e no tamanho do crânio, também chamada hidrocefalia, que, consequentemente, pode afetar as funções neurológicas, culminando com o atraso no desenvolvimento neurológico, psíquico e motor da criança”.
Compreendendo a doença – O Dr. Fábio Batistuta explica que com sete semanas de gestação, acontece o fechamento do sistema nervoso e da coluna do bebê. Naqueles que são diagnosticados com Mielomeningocele, esse processo não acontece naturalmente e os nervos ficam expostos. A má formação ocorre na região lombar e essa abertura na coluna pode comprometer o desenvolvimento psicomotor da criança ao longo de toda a vida. A exposição das raízes nervosas do bebê faz com que o líquido produzido no cérebro extravase pelo orifício da medula, o que reduz a pressão intracraniana da criança. Sem correção, a doença pode levar a casos de hidrocefalia, má formação de nervos e neurônios e problemas locomotores variados. Existe, ainda, o risco de dificuldades na bexiga e intestino.
Geralmente, a cirurgia, baseada na “Técnica de Peralta”, é realizada entre a 19ª e a 26ª semanas da gestação, quando o cérebro está em processo de formação. Assim, reduz-se o risco de complicações maternas, sendo possível prolongar a gravidez até aproximadamente a 37ª semana. O procedimento também impede que os danos iniciais se agravem, já que o líquido amniótico tem uma ação corrosiva sobre os nervos expostos, ressalta o especialista, ao observar que a Mielomeningocele é a única má formação fetal não letal, que tem indicação de cirurgia intrauterina, realizada antes do nascimento do bebê.
Existe farta bibliografia médica que comprova que esse procedimento reduz a necessidade de tratamentos depois do nascimento. A cirurgia também dobra as chances de a criança andar sem o uso de próteses e órteses e reduz em 80% a necessidade de se colocar a válvula no cérebro, para reduzir a pressão intracraniana, devido a hidrocefalia.
Segundo o Dr. Fabio Batistuta, as causas da patologia são multifatoriais, isto é, são provocadas por fatores diversos, tais como: predisposição genética, deficiência do ácido fólico, tratamento recente com quimioterápicos, uso de anticonvulsivantes, obesidade materna, diabetes materno não controlado no momento da gravidez, e hipertermia (febre, sauna, banho termal). “A combinação desses fatores pode desencadear um mau fechamento da coluna no momento da formação do embrião durante a gravidez, quando a mãe nem suspeita estar grávida. Por essa razão, toda mulher que planeja engravidar deve procurar um especialista em Ginecologia e Obstetrícia para realizar um aconselhamento pré-concepcional e iniciar o uso de ácido fólico pelo menos dois meses antes de tentar engravidar”.
A principal maneira de diagnosticar a doença é a ultrassonografia, realizada por profissional capacitado a avaliar adequadamente o sistema neurológico do bebê. “Um profissional especialista em medicina fetal tem a capacidade de detectar a doença no momento do exame de Translucência Nucal, que deve ser feito entre a 11ª e 14ª semanas de gestação. Mas a maioria dos diagnósticos é realizado tardiamente, impossibilitando o tratamento ainda dentro do útero materno.
Tendo em vista a sua rica experiência nesse tipo de cirurgia, o Dr. Fábio Batistuta e equipe multidisciplinar do Hospital Vila da Serra se sentem “agraciados pela oportunidade de operar e ver nascer com saúde nossos primeiros bebês portadores de Mielomeningocele. Pérola e Brenda foram submetidas à correção da lesão em Maio desse ano, ambas no 5º mês de gestação, quando pesavam aproximadamente 650 gramas”.
Walkiria e Peter, bem como Daniele Cristina e Rilder, respectivos pais de Pérola e Brenda, agradece o Dr. Fábio Batistuta, “depositaram em nossa equipe a confiança para que pudéssemos intervir sobre a vida de suas filhas num momento tão delicado. Ambas nasceram com mais de 37 semanas de gestação, na data programada para o nascimento, receberam alta direto para casa, juntas dos seus pais, sem necessidade de ficarem internadas em UTI. Hoje estão saudáveis e, até o momento, não precisaram de qualquer cirurgia complementar. Fazem o seguimento com especialistas em diversas áreas, como neurocirurgiões pediátricos, ortopedistas pediátricos e fisioterapeutas, e apresentam recuperação bem acima da média se comparadas com crianças operadas após o nascimento”, enfatiza.
Equipe multidisciplinar – O sucesso do tratamento da Mielomeningocele do Hospital Vila da Serra tem vários motivos. Um deles é a sua equipe médica. “Construímos uma equipe muito especial, formada por profissionais altamente qualificados, de diversas áreas de conhecimento e que atuam juntos para promover um trabalho muito delicado e complexo, que começa com o diagnóstico e vai até após o nascimento”, afirma o Dr. Fábio Batistuta. A equipe é composta por seis especialistas em cirurgias, e dois anestesiologistas, que atuam diretamente em campo cirúrgico com os pacientes, para garantir a segurança da mãe e do bebê. Durante todo o tempo em que estão no hospital, mãe e filho são monitorados de perto, na Unidade de Cuidados Intensivos, até terem condições de irem para o quarto com segurança. Após a alta hospitalar, são acompanhados pelo Dr. Luiz Guilherme Neves, especialista em Gravidez de Alto risco, para continuação do pré-natal, e pelos especialistas em Medicina Fetal, o próprio Dr. Fábio Batistuta e o Dr. Francisco Eduardo Lima, presentes durante todo o processo.
De acordo com o Dr. Fábio Batistuta, imediatamente após o nascimento, o bebê é acolhido por uma das melhores equipes de Neonatologia de Minas Gerais, a equipe do Neocenter, através da equipe de Neurocirurgia Pediátrica liderada pelo Dr. José Aloysio Costa Val, e pela equipe de Microcirurgia Plástica da Dra. Vivian Lemos, para o caso de alguma reparação estética. Antes da alta, mãe e filho são avaliados pela equipe de Ortopedia Pediátrica do Dr. César Luiz Ferreira e pela equipe de Urologia Pediátrica liderada pela Dra. Cristiane Reis Leonardo. Orientações e acolhimento são fornecidas a todo o momento aos pais no intuito de ajuda-los a cuidar do bebê durante todo o processo.
Par o Dr. Fábio Batistuta, “todas as técnicas que utilizamos no Hospital Vila da Serra são estudadas profundamente e discutidas entre toda a equipe. Não realizamos procedimentos experimentais no paciente e cada conduta é baseada nas melhores evidências científicas já consagradas no mundo”.
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