Parto domiciliar

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Parto do Lucas

Acima de todo o discurso do que é certo, errado, seguro, inseguro, bonito, feio, romântico, grotesco… não seria produtivo levar o nível da conversa para qualquer polaridade.

O parto não é nem feio, nem bonito, nem bom e nem ruim. É simplesmente parto. O desfecho natural da escolha de procriar, hoje e desde que o primeiro primata trouxe uma vida ao mundo (No que tange a espécie humana). A beleza, o símbolo, o êxtase, enfim, todas as sensações, sentimentos e adjetivos que os descrevem depende somente de quem o vivencia. Vivenciar o parto, experimentar cada segundo desse turbilhão de estímulos requer que estejamos plenamente atento e aberto ao novo. É um espaço sem incongruências, sem dúvidas, de entrega plena onde medo e coragem andam lado a lado, momento a momento.

O vídeo acima, aproveitando sua vulgarização na mídia de massa, reflete uma maneira de parir. Nem a melhor nem a mais arriscada, no meu ponto de vista. Mas o que me chama a atenção é a maneira como esse lindo casal mergulhou profundamente na sua escolha de onde e como parir. Assumiram o ônus e o bônus de vivenciar esse momento de suas vidas como bem entenderam. Em nenhum momento pude perceber alguma dúvida, medo ou desespero, somente paz, a espera paciente pelo tempo normal que a biologia nos impôs e um carinho irradiante.

Como médico especialista, obstetra, treinado para diagnosticar o desvio no padrão da evolução daquilo que consideramos normal, para agir prontamente utilizando técnicas intervencionistas amplamente estudadas, publicadas e regulamentadas pelas sociedades de classe (FEBRASGO, SOGIMIG, CRM, ALSO,…) as mesmas sociedades que nesse momento histórico e geográfico, consideram essa prática arriscada e portanto proscrita. Confesso que ao assistir a esse vídeo me emocionei, me encantei com a atmosfera em volta de todos envolvidos com o nascimento do Lucas e confesso que senti uma ponta de inveja (No bom sentido!) de não ter sido o eleito a conduzir essa experiência.

Parabenizo à família pelo protagonismo pela vida e pelo nascimento do Lucas.

E manifesto meu anseio para que um dia possamos deixar o discurso classista num segundo plano e que possamos aprender, estudar e incorporar em nossas práticas médicas as práticas milenares das parteiras, xamãs, terapeutas, doulas e verdadeiramente estarmos ao lado de quem realmente deveria ser a  “figura central” no parto.

 

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