A MATEMÁTICA DA VIDA

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Talvez agora o ocidente e mesmo muitos descendentes nipônicos possam
compreender o verdadeiro sentido da lenda “Ubasute yama”, que foi
 refilmado pelo diretor Shoei Imamura, com o título “Balada de Narayama”
(Palma de Ouro em 83).

“Imamura nos conta a história sobre o Monte Narayama em cujo sopé, na
época de um Japão feudal extremamente pobre, vive uma comunidade de
aldeões agricultores. Os velhos, ao completarem 70 anos são levados ao
 Monte Narayama para aí morrerem.

O altruísmo de Orin, uma idosa às vésperas de 70 anos e de saúde e dentes
perfeitos, a faz quebrar os incisivos superiores para justificar sua
desnecessidade de comida, já às vésperas de sua partida ao Monte…”
 (fonte Google).

Na época, eu conversei com alguns “nisseis” e “sansseis” sobre o filme e a
maioria achou que o filme era cruel, e no mínimo esquisito, sem
compreender que, numa época de extrema pobreza e escassez de alimentos,
era melhor alimentar os jovens para ter uma esperança no futuro. Como
 comentou Marvio, mesmo sendo assombrosa, a medida era simples e lógica
para a sobrevivência de toda uma comunidade.

O interessante é que mesmo após séculos e num país sem fomes, esta lógica
ainda permaneça entre muitos idosos.

DESTAK Jornal Mundo

Esta é a Edição de nº 1174 / Ano 06: 03 junho 20111

10 de junho de 2011
Idosos japoneses se oferecem para trabalhar em Fukushima10 de junho de 2011

Cerca de 200 idosos japoneses estão se oferecendo para tentar controlar a
 crise na usina nuclear de Fukushima. O grupo é composto por engenheiros
aposentados e outros profissionais. Todos com mais de 60 anos.

Eles dizem que são eles que devem enfrentar os perigos da radiação, e não
os jovens.

Assistindo ao noticiário, o engenheiro Yasuteru Yamada decidiu mobilizar
idosos como ele. Para ele, a atitude não é corajosa, mas lógica. “Eu tenho
72 anos e posso viver mais 13 ou 15 anos. Mesmo que seja exposto à
radiação, o câncer vai demorar 20 ou 30 anos para se desenvolver.” Ele
está tentando autorização do governo para que os voluntários possam entrar
 na usina nuclear. O governo agradeceu a oferta, mas é cauteloso, e Yamada
não dá
detalhes sobre o andamento das negociações.

A usina ainda está liberando radiação, três meses após o terremoto e
 tsunami que atingiram o país. A operadora Tepco confirmou que o
combustível de três reatores derreteu, e dois funcionários foram expostos
a níveis radioativos acima do tolerado.

A matemática da vida em Fukushima
Publicado em 03/06/2011 – Marvio dos Anjos

Há no Japão um grupo de 200 aposentados, em sua maioria engenheiros, que
se oferece para substituir trabalhadores mais jovens num perigoso
 trabalho: a manutenção da usina nuclear de Fukushima, que foi seriamente
afetada pelo grande terremoto de três meses atrás. Os reparos envolvem
 altos níveis de radioatividade cancerígena.

Em entrevista à BBC, o voluntário Yasuteru Yamada, que tem 72 anos e
negocia com o reticente governo japonês e a companhia, usa uma lógica tão
simples quanto assombrosa.

“Em média, devo viver mais uns 15 anos. Já um câncer vindo da radiação
levaria de 20 a 30 anos para surgir. Logo, nós que somos mais velhos temos
 menos risco de desenvolver câncer”, afirma Yamada.

É arrepiante. Na contramão do individualismo atual – e lidando de uma
maneira absolutamente realista em relação à vida e à morte -, sexagenários
e septuagenários querem dar uma última contribuição: ser úteis em seus
últimos anos e permitir que alguns jovens possam chegar às idades deles
com saúde e disposição semelhantes.

O que mais impressiona em toda a história é a matemática da vida. A morte
 não é para eles um problema a ser solucionado – ou talvez corrigido, pela
hipótese mística da vida eterna que medicina e biologia tentam encampar e
da qual as revistas de boa saúde tentam nos convencer; a morte é, de fato,
a constante da equação.

Nada que o mundo ocidental não conheça. O filósofo alemão Georg Friedrich
Hegel (1770-1831) certa vez definiu “mestre” como alguém desapegado da
vida a ponto de enfrentar a morte, enquanto “servo” seria um escravo do
desejo de continuar vivo – e que obedeceria mais
às regras que lhe garantissem a sobrevida. Em consequência, o servo anula
sua vontade de transformar o mundo e a si mesmo.

Criados numa sociedade de consumo, corremos o risco de levar essa
escravidão às últimas, defendendo a boa saúde e os confortos com muito
mais afinco do que aquilo que podemos fazer por nós e pelos outros
 enquanto ainda gozamos dela.

Os senhores do Japão ensinam que a morte é a hora em que podemos continuar
 a existir na memória das pessoas – uma oportunidade que, para mim, eles
não perdem mais.

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