Ser obstetra (no dia das Mães)
Há alguns anos, quando entrei para faculdade, me perguntavam por que havia escolhido Medicina e isso me fazia refletir a respeito. Não que houvesse dúvida de minha parte, desde que me entendi por gente, queria ser médica. Não aeromoça ou bailarina (atualmente as meninas preferem ser modelos) como as garotas da época. Eu queria mesmo era ser médica, para espanto das amigas (Você é doida mesmo! Trabalhar em hospital? Eca!). Hospitais que eram um terror pra a maioria das crianças, para mim, um local estranhamente familiar. E fui em frente. Já formada, fui me especializar em Ginecologia e Obstetricia. A pergunta agora era outra: Você vai ser obstetra? Porque? Dar plantão noturno, menino nascendo toda hora, fazer parto, ouvir gritos, cuidar de gestantes? Porque? Agora vou responder.
Eu mesma nasci de madrugada, fazendo o obstetra perder o avião, Dr.Aramis (desculpe não recordo o sobrenome). Um dia minha mãe ao encontrá-lo já velhinho, numa das ruas de Belém, foi mostrar sua garotinha (mães adoram fazer isso!Rs). Eu lá, toda sem jeito, inibida diante do médico experiente e altivo, que me fez uma estranha confissão: “menina, eu te roguei uma “praga” por ter me feito perder o avião: você vai ser obstetra!” Respondi de pronto: deu certo doutor, eu já sou! E rimos os dois, o obstetra velho e orgulhoso de seus longos anos de trabalho e eu, a aprendiz, admirada pela lucidez daquele homem. Despedimos-nos com um longo abraço e ouvi-lo sussurrar no meu ouvido: “Parabéns!” Saí orgulhosa e emocionada.
Como dizia antes, eu nasci de madrugada. E também pari de madrugada. Como foi importante a presença do obstetra. Obstetrícia (do Latim obstare) , significa “Estar ao lado”. Era tudo o que eu queria. Ver a vida se desenvolver, estar ao lado. Obviamente as especialidades são uma questão de afinidade. Durante os anos na faculdade, passamos pelas principais clinicas e ao final cada um segue seu rumo. O meu foi esse e não podia ser outro. Sou obstetra porque nasci pra isso, porque acompanhar o desenvolvimento e nascimento de um ser humano motiva minha vida, porque ainda me emociono ao ver a alegria de uma mulher que ouve pela primeira vez o coração de seu bebê durante o pré-natal, ou as lágrimas de uma mãe ao ver o rostinho de seu filho recém-nascido. Por que
apesar de todas as dificuldades, a paixão é maior. Porque no Dia das Mães
podemos dizer a cada uma delas que “estamos ao seu lado”.