O parto na água e a escolha de Gisele
Antes mesmo de ir ao ar, no Fantástico deste domingo (31/1), a entrevista em que a modelo Gisele Bündchen conta como deu à luz dentro da banheira de sua casa já virou assunto na mídia. Didático, o site da revista para mães se apressou a explicar como é feito o parto na água, suas vantagens e riscos. Mas ouviu a fonte errada e só reforçou os principais mitos sobre o tema. Já o jornal carioca, para ser imparcial, preferiu alinhavar as opiniões opostas de uma enfermeira obstetra e um médico. Resultado: deixou o leitor à deriva, completamente desorientado. Melhor fez o portal de internet, que simplificou a questão com um toque de prudência: essa “moda” pode ter riscos, alertou.
A dificuldade da imprensa é compreensível. Com nossos índices de cesárea que superam 80% nas maternidades particulares, estamos habituados a considerar o parto cirúrgico como uma opção mais prática, moderna e segura do que o velho e “arriscado” parto normal. E o que dizer sobre o parto na água, que nem os médicos conhecem?
Nesse contexto, o caminho mais confortável é tachar a escolha de Gisele de arriscada. E fechar os olhos para o fato de que é cada vez maior o número de brasileiras em busca daquilo que ela discretamente conseguiu: ser dona do seu próprio parto, indo contra um sistema que insiste em transformar gravidez em doença e parto em risco. E usar esse pretexto para tirar da mulher o direito de decidir com base em informações confiáveis o que é melhor para ela e seu filho que vai nascer.
Numa única frase da entrevista, Gisele revela qual era o seu desejo ao buscar um parto como esse. “Eu queria estar consciente e presente no que estava acontecendo”, diz ela na chamada que anuncia a reportagem. O que supermodelo queria era um parto natural, sem intervenções médicas desnecessárias e com respeito ao ritmo próprio e singular do seu corpo. Ela queria que seu filho viesse ao mundo no tempo certo, livre de drogas e por seus próprios esforços. Simples. E ao mesmo tempo tão difícil.
Parto normal ou cesárea? A dúvida tão comum sobre os tipos de parto traz embutido um falso dilema. Nem normal, nem cesárea: é possível escolher uma terceira via. No entanto, existem apenas duas posturas frente ao parto: fazer as próprias escolhas ou permitir que outros decidam por você. Gisele escolheu ser protagonista.
O nascimento na banheira é um mero detalhe. Gisele não buscou um parto na água. Porque o parto na água não é um fim. É um meio, uma possibilidade, um dos desfechos possíveis para o parto em que a mulher é ouvida e respeitada. Benjamin poderia ter nascido no chuveiro, na banqueta de cócoras, na cama do casal, na rede ou onde quer que ela se sentisse mais confortável naquele momento.
O que vale no parto de Gisele é o caminho que ela percorreu para dar um nascimento digno ao seu filho. Uma opção difícil, resultado de muito aprendizado e reflexão. Por outro lado, a presença da água no parto de Gisele é muito simbólica. Analgésico natural poderoso, a água é uma grande aliada das mulheres que descobriram que a dor é um elemento presente no parto, mas não o único. Nem o mais importante.
A água morna é um carinho e um alívio para as dores docorpo das mulheres que se permitem experimentar sentimentos opostos como confiança e medo, alegria e mau humor, energia e cansaço, para dar a vida a seus filhos. Uma experiência emocionante e para sempre lembrada como prazerosa.
Com sua escolha, Gisele conseguiu imprimir no primeiro instante da vida de seu filho a marca de sua singular
Texto extraído do site “ Parto com Prazer”