A Visão da Gravidez na Modernidade
Cláudio Paciornik*
Maio de 2007
Hoje, enquanto fazia um intervalo, meditei sobre a visão da gravidez. Existem
várias visões, milhões, pois cada indivíduo pode ter a sua. Pensava em
descrever a minha, e as que escuto e que testemunho. Pensei em descrever
como estas visões existiram e se formaram, tentando percorrer com vocês os
tempos históricos e as visões de mundo que homens e mulheres tem e
tiveram.
Distraído, peguei por acaso abro um livro de bolso no café em que estava e li:
…todo trabalho é vazio, a não ser que haja amor;
e quando trabalhais com amor, vos ligais a vos mesmos, e aos outros…
…o trabalho é tornar o amor visivel…
E na última página:
….Em pouco tempo, um momento de descanso ao vento, e uma outra mulher
me dará a luz.1
A gravidez acontece durante o amar de um homem e de uma mulher. O
nascimento é um acontecimento festejado todos os anos pela vida afora. A
minha visão da gravidez está expressa nestes versos do poeta. É propiciar-nos
a possibilidade de afeto, respeito e alegria.
1 O Profeta, Gibran,K LPM Editores,2001
Por quê nós “humanos” precisamos de cursos de humanização?
Em cursos assim nós ensinamos que não há necessidade de nos comportarmos
como numa guerra, onde há perigos escondidos e inimigos a espreita, onde
são necessários generais com uma divisão de tanques, canhões, aviões e
mísseis teleguiados.
Temos que ensinar que não precisamos tirar nossa pilificação, colocar tubos
para esvaziar os intestinos, colocar instrumentos perfurantes, ligados a tubos
líquidos, quando podemos beber, evacuar e caminhar.
Caminhar durante o parto: proibido nos lugares eleitos como templos de cura
há 30 anos. Mães deitadas: com calmantes injetados para relaxar e apressar a
dilatação do colo uterino; e depois hormônio: a ocitocina gotejada na veia para
apressar o nascimento. E ter cortada a vagina para dar melhor passagem e
facilitar o nascimento: como se a gravidez e o parto tivessem que ser
modernizada como nossos meios de transporte. O parto deve estar igual há
pelo menos 500.000 anos.
Um “batedor” (guia que conhece bem o caminho, quem levava os viajantes
por lugares desconhecidos) que conheça o caminho, que goste de andar por
ele, que tenha feito várias viagens, e aprendido com outro bom batedor, que
sabe dizer o que as pegadas, as plantas, e o gritar do falcão são e qual o
significado do vento Norte – alguém que saiba onde se abrigar do mau tempo:
ele vai ajudar nesta viagem da vida muito melhor que um erudito de
biblioteca. Ah, o erudito também pode ser um excelente batedor.
E o que dizer, que necessitamos de ao nascer de sermos separados de donde
viemos? Para sermos examinados, aquecidos, até há pouco aspirados por um
motor elétrico com sondas passadas pelo nosso nariz? Mostrados à mãe, e
levados para pesar e ficar sendo observados numa prateleira de acrilico, com
um aquecimento vindo de resistências elétricas de cima, e depois num
bercinho, antes por 24 horas, atualmente “pelo menos 6 horas”, num lugar
denominado berçário, para que tenham certeza que estamos bem?
Recomendações da Organização Mundial da Saúde dizem que estas medidas
não são necessárias e que outras atitudes devem ser estimuladas, como :
Voce pode andar durante o periodo de dilatação.
Pode ficar da maneira que sentir mais confortável.
Não precisa ficar em jejum. Não é o Ramadã, nem o Yom Kipur, e mesmo que
fosse, não precisaria ficar em jejum.
Ah, e pode fazer suas eliminações na hora que sentir vontade.
Se tiver alguém querido que te ampare quando estiver sentindo as contrações,
e que te massageia as costas, por que não?
Se ajuda pode fazer. Ah, a OMS não tem certeza se a massagem, ajuda; a
acupuntura, parece que não sabe. Mas se voce sabe que o do-in o shiatsu, o
afeto ajudam…
Na hora do nascimento se quiser gritar, ficar de quatro, de cócoras, sentada,
numa bola, rebolando, se te fizer sentir melhor – fique.
Um banho morno, que delícia, como relaxa!
Parir na água com o teu amor, pai, marido, quem seja, te amparando, na
posição que facilite.
E eu que nasço, ufa, que bom. Não tenho pressa, não sei que existe relógio
ainda. Levo o tempo que levo, ninguém me puxa, me estapeia, ordenha o
cordão que me traz alimento, ou corta-o assim que nasço [A OMS recomenda,
eu não]. Deixa eu começar a respirar tranquilo, dar uns espirros se precisar,
para jogar as águas para fora, e que bom! O calor me pega e me sinto todo
aquecido, movimentando, junto acariciado. Minha língua passa e eu sugo no
quentinho, e assim vou ficando, alerta, olhando no olhando…
Em Curitiba, “capital ecológica” do Brasil
Aqui na cidade de onde escrevo, Curitiba, com 3 milhões de habitantes, cidade
modêlo no Brasil com muitos parques verdes, os nascimentos se dão em 90%
de cesareana nos hospitais que atendem convênios. Na rede que atende SUS,
45% são cesareanas. A porção dos 10% ou 50% que tem parto via vaginal,
são deitados. Hoje se estimula o andar, mas ainda existem as salas de pré
parto. Em muitos lugares ainda o neném fica “6 horas em observação” no
berçário.
Em maternidades “Amigas da Criança” que visitei no Brasil, pese toda a boa
intenção, os berços aquecidos estão ao lado das camas de parto que permitem
pouca movimentação. A presença do pediatra, o primeiro a receber a criança,
é considerado sinal de qualidade. E é defato – quando se faz necessário.
No Brasil, o ministério da saúde vem estimulando, prêmios para os hospitais
“Amigos da Criança”, e a formação de casas de parto onde o nascimento é
atendido por uma equipe multidisciplinar e visto como um acontecimento
familiar.
Há uma mudança de paradigma, uma nova visão vem sendo semeada. A visão
da humanização na saúde. Este trabalho já dá frutos, e está aumentando.
Volto à pergunta, por que nós humanos temos que nos humanizar?
Vou pelo zig-zag da história, tateando a idéia dos ancestrais para tentar
entender. Vou citando alguns humanos que nos antecederam e que foram
reconhecidos por suas idéias.
Sentimos “calor humano”, quando amparados, queridos, aconchegados,
considerados e respeitados. É o calor da fogueira, lembrança profunda do
grupo protegido das intempéries e de perigos.
O humano pode ser benevolente, amoroso, assim como podemos viver o seu
contrário, a ira, a inveja, a raiva, o ódio, todas as emoções.
“Eles não saberiam o certo, se o oposto não existisse…(Heráclito – após 480
a.C.; unidade dos opostos – o logos como a força organizadora – tudo é
mudança)
O oposto e o certo decorrem da cosmovisão que a sociedade tem como crença
principal.
A gravidez, o nascimento e a criação, estão associados com as crenças e a
cosmovisão do grupo ou sociedade em que estão inseridos.
Nas sociedades nas quais tivemos oportunidade de viver, retratar e estudar,
os seus integrantes são parte do cosmos. São irmãos dos seus irmãos, e
também dos outros seres, animados ou não. O universo todo é vivo, povoado
de deuses, suas plantas têm consciencia e são remédios.
A natureza é encarada como detentora de direitos e nós como tendo deveres e
fazendo parte dela. Este ponto de vista ético não se encontra na tradição
ocidental, nem na tradição teológica-escolástica da Idade Média. Ao contrário,
o ocidente teve a formação de que os animais não tem alma, apesar de serem
denominados de animados. Assim como as coisas são inanimadas.
Até séculos atrás também os escravos e os índios eram “des- almados” pela
igreja e pelos interesses dos poderes coloniais. Por isso não tem direitos, e nós
não temos deveres para com eles.
Podemos tratar os animais como coisas, e as coisas [“inanimados”] como
coisas. Isto nos permitiu e nos permite explorá-las sem constrangimento.
Como consequência desta crença, ao tratarmos o planeta como coisa, já
destruimos o planeta em que vivemos e este por sua vez…
A idéia do homem estar apartado da natureza é na verdade bastante
recente. Anteriormenente, o homem jamais teve essa idéia. Ele sempre se
considerou parte da natureza, íntima e fundalmentalmente ligado a ela e
inserido nela. Os processos sexuais humanos são idênticos aos da natureza, e
há uma conexão profundamente enraizada entre ambos.
Esse era o padrão do mundo, e remanescentes dele continuaram por séculos
depois da aceitação do cristianismo, nos chamados cultos de feitiçaria da
Europa Ocidental, que eram essenciamente antigos cultos de fertilidade que
haviam sobrevivido desde tempos muito antigos.
O conceito de unidade com a natureza foi abandonado no mundo civilizado
durante um periodo que começou pelo século VIII ou VII antes de Cristo. Toda
a concepção então mudou para a idéia de que de alguma forma, o homem está
separado da natureza.
Esso processo é percebido na India com o surgimento do jainismo e o
budismo. É visto no Oriente Próximo com o surgimento dos profetas hebreus. É
visto na Grécia com o surgimento de Pitágoras [570 a.C.] .1
Com o Renascimento europeu, busca-se a volta ao clássico. Como reação à
fé dogmatica da Idade Média busca-se a separação entre a razão e a fé.
1 A Situação Humana, Huxley,A. Círculo do Livro, 1977
Rene Descartes, fundador da filosofia moderna, (filósofo e matemático, 1596-
1650, “Discurso sobre o Método”) dá supremacia à Razão e declara como evidênte:
“Penso, logo existo”.
Descartes nos deu o dualismo cartesiano – mente e matéria. A importância da
certeza alcançada por meio da dúvida, como base do conhecimento. Meritório
ao tentar desfazer as teias de aranha do conhecimento obscurecido pela idade
Média, mas com o erro básico de ter invertido o sentido do pensamento:
“Existo logo sinto e penso”. Ou noutra ordem, mas com o penso depois do
existo.
No Moderno surgiu a crença que tudo poderia ser desvendado por meio da
razão e da ciência.
… na visão iluminista que se desenvolveu no interior da modernidade
ocidental, partia-se do pressuposto de que as estruturas do mundo natural e
social podiam ser desvendadas por meio da razão e da ciência. Estas últimas
tecnológicamente lhes permitiria domar a natureza, mas também levaria a
uma tecnologia social paralela, destinada a aperfeiçoar a vida social e a
introduzir “a boa sociedade”.1
Da mistura entre a supremacia da fé e a razão da Razão nasceram os dogmas
de fé ancorados na razão, tão comuns na prática médica, onde opiniões
baseadas no poder de alguns, se travestem de “Saber” tão supersticiosos,
manipuladores e comprometidos com falsidades, muitas vezes muito mais do
que se quis evitar, desconsiderando os conhecimentos empiricamente
comprovados.
1 O Desmanche da Cultura – globalização, Pós Modernismo e Identidade, Featherstone,M. Livros Studio
Nobel,1997
Para contrapor estes “saberes”, e corrigir esta mistura, iniciam-se os trabalhos
de medicina baseada em e-vidências. Evidens do latim, clarear. E-vidente,
que é claro, que não precisa de provas. E-vidências, provas.
Presumia-se que as nações ocidentais, as primeiras a desenvolver e aplicar tal
conhecimento, estavam muito adiante no processo de desenvolvimento social
e poderiam manter confiantemente sua liderança na medida em que os povos
de outras partes do mundo procuravam, com muito empenho, seguir e colher
os benefícios da modernização.
O comprometimento com esse ideal fundamental significava a rejeição de
todos os corpos anteriores do conhecimento, considerados dogmáticos e
irracionais. Julgava-se que a modernidade acarretaria um implacável
destradicionalismo.
…as orientações coletivas dariam lugar ao individualismo, a crença religiosa
seria substituída pela secularização e o sedimento acumulado de usos e
costumes, bem como as práticas cotidianas, se renderiam à progressiva
racionalização e à busco do “novo”.
A “tradição do novo” [modernismo] resulta em questionamento de todos os
modos relativos aos valores fundamentais
Com os trabalhos de Darwin, “A Origem da Espécies”, “A Expressão das
Emoções no Homem e nos Animais”, dá-se uma volta da espiral, vindo do
estágio descrito anteriormente ao estágio autoconsciente transformado nas
idéias da Ecologia, Etologia (ciencia do comportamento animal), na Física com
Albert Einstein e a relatividade, no estudo das partículas, na incerteza de
Heisenberg, onde em lugar de materia sólidas e certezas, temos grandes
espaços, campos de força e só probabilidades.
Renova-se a idéia do tecido das relações, da rede onde tudo é o centro, de
organismos dentro de um organismo maior.
No século XX, contrastando com o valor atribuído à vida ordenada, à
produtividade e à frugalidade, encaradas como elementos essencias da ética
protestante que estabecleceu as bases da modernidade capitalistahouve uma
mudança em direção ao consumo, ao lúdico e ao hedonismo.
Com isso vai se descorporificando o cotidiano, tornando-se virtual.
Temos nosso curso que propicia nos conhecermos. Uma “Avatar” (mulher
virtual) do programa “Second Life” é considerada uma das mulheres mais
sensuais do planeta. Fazemos sexo via internet. Com certeza boas amizades
também. Uma publicidade está sendo veiculada atualmente na televisão: um
ser barbado se agita e é questionado, como que êle não está baixando filmes,
mandando mensagens, escutando música, falando com o mundo? Como é que
êle está perdendo tempo? As coisas estão acontecendo! Êle necessita da banda
larga, sem ela ele está fora do mundo! No mundo sentado numa cadeira,
acelerando em direção ao mesmo lugar. Muitas novas possibilidades, de
antigas ações.
Tecnologia
Mito de Sisifo – Sisifo rolava uma pedra até o cume de uma montanha, com
muito esforço, e ao alcançá-lo, tinha como sina a pedra rolar de volta ao lugar
de partida. Sisifo recomeçava, e esta era sua sina.
Albert Einstein: “A tecnologia isolada é como dar um machado a um louco
furioso.”
Lao Tsé século VI a.C.: “Perseguir, caçar e montar, tornaram o homem
selvagem…”
Olhando o decorrer da História, vemos que as alterações que ocorreram na
nossa consciência estão associadas à mudanças tecnológicas. Assim quando a
oposição entre o polegar e o indicador ocorreu, a habilidade em fabricar
instrumentos explodiu. Quando se conseguiu manejar o fogo se pôde descer
das árvores e dormir em volta das fogueiras com segurança. Ao caçar em
grupo e desenvolver utensílios, ao montar outros animais, ao inventar a roda
especializou-se o homem e especializou-se a mulher. Dominaram a natureza.
Especializaram-se em dominar, e acabaram dominados. Por um período a
mulher pelo homem.
Os chineses tinham o “I Ching” há 5000 anos, inventaram a bússola, a
pólvora, o canhão e o macarrão, mas, não sei por que, diz-se que a ciência
foi inventada na Grécia.
Esta era parte de um corpo de conhecimento junto à ética, à filosofia, à
mitologia e à astrologia. O panteão grego, com seus Deuses e Deusas, cheios
de emoções e humores, eram cultuados por Hipócrates, o pai da medicina.
Este ia ver as águas, os ares e os lugares em que a pessoa a quem ia atender
morava. Fazia antes do exame físico a carta astrológica do paciente.
Aristóteles inventou a lógica. Filósofo, pioneiro em várias ciencias valorizava o
conhecimento obtido pela observação de fenomenos naturais. Foi o filósofo
aceito pela Igreja Católica absorvido via São Tomás de Aquino.
Na idade média suas idéias e teorias tornaram-se imutáveis. A Terra era o
centro do universo, e os que discordaram foram queimados, como Giordano
Bruno, ou obrigados a se desdizerem como Galileu. “…mas que gira em torno
do Sol, gira.”
Herdeiro e resultado da mistura da fé religiosa e de sua inquisição, com a
reação de Descartes e Newton, o humano “civilizado”, com sua visão
antropocêntrica, passou a crer no progresso indefinido. A fé dogmatica
religiosa, converteu-se na fé científica. Até a metade do século XX, o homem
acreditou-se capaz de tudo resolver.
Havia descoberto os antibióticos, a anestesia, a energia elétrica, dominado a
energia atômica, viajado ao espaço – tudo era possível. Construiu grandes
cidades, grandes usinas, inventou o avião e o automóvel. Com suas invenções
tecnológicas ficou escravo delas. A paisagem mudou. As cidades passaram a
ter grandes trevos e avenidas, tudo que fosse necessário para que os
automóveis pudessem melhor circular. Consumiu e sujou o ar que respira, e
acabou por produzir uma estufa.
A terra, uma bola de ferro incandescente, girando solta pelo universo, e nós
senhores na sua crosta a nos servirmos num banquete farto e cego.
A tecnologia é fruto da ciência, mas isolada não é ciência. É perversão;
fica insana.
Uma frase na década de 1970 quando se discutia a importância das crenças
médicas da época:
“Se querem tanta assepsia, por quê não esterilizam o bebê na autoclave!”
A medicina, seguiu a visão de mundo de sua época. Confundiu-se ciência com
tecnologia, longe da ética e da filosofia. Associada ao sistema atual em que só
tem valor o que se traduz em monetário, e que este valor deve se transformar
e produzir mais valor, ficou vinculada aos resultados da bolsa de valores.
Há o uso e abuso da tecnologia. Seus instrumentos têm que dar lucro. Assim
os instrumentos, aparelhos, remédios e materiais são submetidos à lei de
mercado e da bolsa de valores, tendo que equacionar e prestar contas, ver os
benefícios que trazem à saúde do planeta e de seus integrantes por um lado,
e ao sucesso economico do emprendimento por outro.
Trabalhos já mostraram que a generalização da cardiotocografia, desde 1979,
não é efetiva. Funciona como placebo. O mesmo se escreveu sobre a
ultrassonografia, que nas gestações de baixo risco não melhora os
nascimentos. É efetiva nas gestações que têm alterações e risco elevado, e aí
sim, guiada pelas evidências passa a ser um instrumento salvador.
Já está havendo uma mudança radical neste sistema, obrigado a contragosto
pela Terra que está provocando febres, degelos, inundações e futuras
glaciações. Já é parte do conhecimento humano há pelo menos 100 anos o que
está acontecendo, e houve relutância em mudar.
A visão de seres isolados, lutando pela vida, vencendo o mais forte, está
caduca. A visão – é a visão dos que sempre souberam que fazemos parte de
um Todo, e que o Todo está em suas partes. É onde a intuição tem lugar.
O fator de presença
Uma mulher pode ter engravidado, mas não estar grávida.
Pode-se estar perto mas não estar junto.
Pode-se estar olhando e não vendo.
É preciso prestar atenção.
E atenção só acontece no agora.
Um estudo prospectivo realizado na Guatemala pelo Prof. Sosa, mostrou que
quando uma gestante foi acompanhada por uma pessoa que dava amparo e
afeto, aconteceram muito menos intervenções, sejam complicações ou
cesareanas.
Este trabalho foi continuado por Kenneth Klaus, nos EUA, que emprestou do
grego o nome “Doula”, para designar esta acompanhante interessada, que não
precisa de conhecimentos técnicos, mas sim da disposição afetiva de servir.
“Doula” em grego significa serva. Basta estar presentemente presente.
Qualquer um pode ser Doula, inclusive o médico obstetra.
A ação acontece no agora. Toda as informações que já recebemos e trazemos
são atualizadas. Existe um fator de presença, que pode e deve ser ampliado.
Nossas funções melhoram quando prestamos atenção. Nossas soluções são
melhores no presente. A presença de espírito é a presença de nossa presença.
É nesta atenção plena que vivemos o Nascimento. E o Nascer é o Presente,
para a mulher que se torna mãe, para a criança que já estava e chega, para o
homem que se torna pai, para quem está presente.
É no Presente que se encontra o Humano.
Concluindo
Cito uma palavra em sânscrito, que descreve a condição humana:
Avydia é o contrário de ver. Avydia significa ignorância. Nas “tankas”
tibetanas, ela é representada como a mãe vendada, caminhando em direção a
poucos passos de um abismo.
Vydia em sânscrito é visão, ver. E-vidências, que claream, e nos alimentam
a consciência, que a ciência, a arte e a intuição, tem como misssão deixar o
amor visível.